Onda atual é investir em startups que têm os pés no chão e alcançaram o ponto de equilíbrio entre receitas e despesas, ao invés de investir em unicórnios. Unicórnios pelo camelo?
Até bem pouco tempo atrás era comum ouvirmos falar em investir em unicórnios, aquelas startups que rapidamente entra para o seleto grupo das empresas com valor superior a 1 bilhão de dólares. Os mais atentos, porém, já devem ter percebido que o termo “unicórnio” tem sido pouco ou nada usado nos últimos meses. Isso é sinal da crise financeira, da escassez de empresas com potencial verdadeiro para alcançarem tal patamar e, claro, da mudança no comportamento dos investidores.
E ai, vai investir em unicórnios ou camelos?
Hoje, a onda é investir em startups que têm os pés no chão. Aquelas que atingiram o break even point — ou, em bom português, que alcançaram o ponto de equilíbrio entre as receitas e despesas —, além de manter um bom faturamento e crescimento constante, mesmo que não tão rápido quanto se deseja. O importante é ter bons fundamentos.
Esse tipo de empreendimento é conhecido como startup “camelo”. Como se sabe, o camelo é um animal resistente, capaz de ficar semanas sem beber água e muitos dias sem comer. Por essa razão ele dá nome a essas empresas que, apesar de ainda pequenas, são resistentes às inconstâncias do mercado. Não interessa se os juros subiram ou baixaram, elas seguem firmes e fortes.
É fácil entender a preferência por startups com essa característica. Elas apresentam riscos mais baixos e necessitam de menos aportes. Pouco antes da pandemia de coronavírus, era comum gestores adotarem o cash burn como estratégia para crescer. Como havia dinheiro sobrando, os investidores bancavam e faziam aportes extras até que a empresa decolasse, para só então obter o retorno almejado.
Menos desperdício, custos controlados
Mas tudo mudou. E não só no Brasil. Com a crise é preciso ser seletivo. Se pensarmos bem, o termo “camelo” pode ser novo, mas o conceito que o define é bem antigo e remonta ao “lean manufacturing”. Criado pela Toyota, o conceito consiste em reduzir custos evitando desperdício e, assim, lucrar mais. No caso do investidor atual, poderíamos dizer que essa tática se resume em investir pouco e obter boa rentabilidade.
Startups que se encaixam nesse modelo surgem pagando baixos salários aos sócios. Elas até se aproximam de empresas comuns, mas usam a tecnologia para reduzir custos e aumentar a produtividade. Buscam o crescimento a todo instante, mas não desesperadamente. O investidor avalia, vê que a empresa está no caminho certo, pega o “trem do crescimento” e desce na “estação seguinte”, logo depois de ter aproveitado a viagem para obter rentabilidade. É nesse movimento, aliás, que a startup camelo cresce mais um pouco.
Por esta razão quem deseja empreender não deve se preocupar se a startup será ou não um unicórnio, mas sim em garantir que os fundamentos sejam sólidos. A empolgação por investir em unicórnios aconteceu quando era novidade. Hoje, os investidores estão mais calejados. É melhor investir na fantasia dos unicórnios ou na resistência e segurança do camelo? A resposta ficou clara.
* Igor Romeiro é CEO da plataforma de investimentos Efund
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